O mês de março, sem dúvidas, nos faz refletir a respeito do que conquistamos até aqui, e a olhar para o horizonte e vermos as lutas que ainda temos adiante. Para se ter uma ideia, há apenas oito anos foi sancionada a lei que torna qualificado o crime de feminicídio no Brasil e somente há 35 anos a Constituição brasileira reconheceu homens e mulheres como iguais.
Em relação à experiência com o trabalho, os números em nosso país permanecem desafiadores: o Brasil ainda ocupa a 130ª posição em igualdade salarial entre homens e mulheres, e em cargos de gerência mulheres ocupam somente 37% deles. Entre mulheres negras este número é ainda mais assustador, apenas 2% estão em cargos gerenciais.
Existem números ainda que trazem à tona questões entre trabalho e vida pessoal: 48% das mulheres perdem o emprego após retornarem de licença maternidade. Após a pandemia, cerca de 30% das mulheres largaram o emprego para cuidar dos filhos; e pelo menos 50% das mulheres deixaram o emprego para cuidar de alguém.
Esses percentuais nos mostram que, embora superada em lei, a desigualdade entre os gêneros permanece em nossa cultura. Uma amostra interessante deste aspecto é o quanto os gêneros gastam tempo semanal nas tarefas domésticas: mulheres gastam cerca de 21 horas semanais, enquanto entre os homens o gasto é de 11 horas.
Os dados chamam atenção e demonstram que seguimos lutando, mas a verdade é que estamos exaustas! E em meio a luta pela equidade de gênero, precisamos lembrar constantemente de voltar os olhos para nós mesmas.
Todos esses fatores foram, seguramente, motrizes para a Campanha da Secretaria de Fazenda de Niterói do mês da mulher neste ano: a questão do cuidado.
Pesquisas recentes mostram que a saúde mental das mulheres é um problema crescente no Brasil. Segundo uma pesquisa da Fiocruz, as mulheres apresentam taxas mais altas de ansiedade e depressão do que os homens. A falta de tempo para cuidar de si, combinada com a pressão de ter a obrigação de fazer tudo sozinha, pode ser um fator determinante para isso. Além disso, a rotina agitada que muitas mulheres enfrentam pode levar a um estilo de vida pouco saudável. A falta de tempo para exercícios físicos e uma alimentação equilibrada pode resultar em problemas de saúde a longo prazo.
Precisamos levar essa discussão para as organizações e, principalmente, para as instituições públicas, e é este o desafio que estamos buscando abraçar com esta Campanha.
Nos últimos anos, tem-se discutido muito a importância do bem-estar no ambiente de trabalho. E não é para menos: a exaustão e o estresse no mercado de trabalho estão cada vez mais comuns. Mas o que muita gente não percebe é que isso afeta não só os trabalhadores, mas também as políticas públicas entregues à sociedade. Servidores públicos são um exemplo disso, pois em muitas ocasiões, a rotina intensa e a falta de cuidado com a saúde mental e física dos servidores podem impactar negativamente na efetividade do serviço prestado à sociedade.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que a exaustão no ambiente de trabalho é uma das principais causas de doenças ocupacionais, levando a um aumento na incidência de depressão e ansiedade. No Brasil, 70% dos trabalhadores se sentem exaustos, o que indica que isso é um problema que precisa ser abordado de maneira mais séria. Em outras palavras, servidores exaustos têm menos energia para prestar um atendimento de qualidade e elaborar políticas públicas que atendam às demandas da população.
No entanto, é importante lembrar que a mudança começa de dentro. É fundamental que as organizações públicas se preocupem com o bem-estar de seus servidores. Isso não só irá melhorar a qualidade do serviço prestado à sociedade, mas também ajudará na retenção de talentos e na atração de novos profissionais para o setor público.
Mas mudar a cultura das organizações não é fácil. É preciso que sejam criados programas de saúde mental e física, que os servidores tenham acesso a pausas regulares e que seja incentivado um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Essas medidas não apenas ajudarão os servidores, mas também promoverão uma mudança positiva na sociedade.
Neste sentido, ao longo de todo o mês de março, a Campanha “Cuidando Delas na SMF” estará abordando diferentes prismas em torno da ideia do cuidado, e como essa palavra tão sensível pode e deve fazer parte da coletividade. Por isso, pensamos em 3 perspectivas a serem tratadas a cada semana do mês: o cuidado físico e mental; o cuidado materno e ao próximo; e o cuidado no ambiente de trabalho.
Como forma de concretizar uma mudança na cultura organizacional, iremos desenvolver diversas ações ao longo do ano, entre elas iremos promover uma roda de conversa sobre o cuidado coletivo, a elaboração de um Guia da Gestante, a inauguração de uma Sala de Amamentação e a implementação de um programa de ergonomia na Instituição.
Com essas ações, convidamos, então, nossos servidores a refletir sobre a ideia do “cuidado coletivo”, e sobre como todos precisam se ver como aliados indispensáveis na luta por equidade de gênero.
Ao pensarmos o tema cuidado e convidarmos a todos os gêneros para a conversa, estamos sem dúvidas ampliando a discussão, fomentando o debate, e, principalmente, compreendendo que os desafios continuam e pertencem não só às mulheres, mas à sociedade.
Ao cuidar de si mesma, a mulher terá mais energia, motivação e confiança para enfrentar os desafios do dia a dia.
A Campanha promovida pela Secretaria Municipal de Fazenda integra uma série de iniciativas promovidas pela Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres da Prefeitura de Niterói (CODIM), que ao longo do mês de março promove o Festival Mulher. A programação completa pode ser acessada pelo instagram da Codim (@mulheresniteroi).
Parabenizo a coordenadora da Codim, Fernanda Sixel, pelas iniciativas que estão sendo realizadas ao longo do mês e por mostrar todo o protagonismo da mulher, através de suas lutas, desafios e conquistas. Deixo também meu respeito e admiração a todas as secretárias e servidoras da gestão, mulheres fundamentais na execução de projetos que colocam Niterói sempre à frente.
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Texto escrito em coautoria com a diretora da Assessoria de Planejamento Institucional, Dandara Xavier, responsável pela Campanha “Cuidando delas na SMF”.